quinta-feira, 13 de novembro de 2008

[Introdução ao Cénario] Decrepitude e Privação

Decrepitude & Privação
Aqueles no Estado, principalmente em sua capital, percebem as linhas mestras que permeiam este sentimento.
Tudo, apesar de novo, adquire seus ares de decrepitude, talvez pelo envelhecimento precoce proporcionado pela maresia. Talvez mesmo pela falta de cuidados regulares e comuns ou mesmo uma manutenção mínima.
Assim revela-se a contragosto a antiguidade de seus povos, mesmo aqueles que chegaram há poucos dias, o cansaço e o marasmo da viagem se dispõem como um sentimento perpétuo.
Não adianta querer motivar as pessoas, elas olham com descrença e indulgencia, irritando ainda mais seu interlocutor.
Sentimento perpétuo desse estado de coisas, que leva ao sentimento de estar em privação do que era seu.
Morosa dor se exprai. Ao cair da noite, dores antigas reacendem em fogueiras e folguedos estranhos. Por um momento parece que a vida retorna, até que a sensação de segurança some e o ar frio da noite lhe açoita.
Cruze o Estado, noite ou dia, a sensação do desconhecido lhe permeia, talvez encontre um sotaque similar ao seu e lhe faça proveito a leve sensação de estar de novo inteirado de sua civilização.
As dores antigas a tudo permeiam.
As lembranças existem, em seus hábitos menores que o qual sua origem não é conhecida por cá. Antigas, arraigadas no inconsciente e assim mesmo desconhecidas.
Veja as praias banhadas pelo luar e suas dunas que um dia beberam sangue, tanto por terra tanto por mar. Sua degradação constante é uma lembrança constante do estado de deterioração.
Vague perdido pelos mangues e com o medo permanente em seu encalço de nunca mais voltar e não deixar vestígios. Na maré e na lama e a sombra verde que lhe ocultarão até o fim dos tempos.
Corra pelos coqueirais, fuja de seus algozes que a galope zombam de sua incredulidade.
Percorra de agreste ao sertão distante e pereça à balas ou a espinhos. Do mandacaru a palma o gosto amargo das cinzas.
Veja os morros e ditas serras e lembre-se de seus segredos em covas a muito esquecidas.
Siga por trilhas em matagais agrestes e depare-se com pequenos rios temporários que lhe levem para seu ultimo refugio e local de sua morte.
Veja os sítios históricos e marcas de guerras antigas, das convulsões e dores antigas que ainda estão no semblante de seus povos. Uma marca de sangue e sofrimento que ainda carregam em seu sofrido silêncio ancestral.
As ruínas das barrocas igrejas ou nos memoriais familiares, pois eles ainda existem, famílias que não se esquecem de passados tenebrosos em que eram senhores de escravos e do sangue que ainda querem derramar.
Veja que os velhos engenhos transformaram-se em latifúndios e usinas, a poucos donos como dantes, com muita exploração dos velhos modos de seus pais sesmeiros.
Não pare para ajudar o desabrigado, desprovido, famélico da seca, já que ele o ludibriará para levá-lo a morte certa.
Permita-se viver mais uma noite, mais um dia que seja, na sombria, decrépita e esquecida feições que lho permite: Shadows of Sergipe: Orbis Ciriji.

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